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domingo, 6 de fevereiro de 2011

CRISTO CONCRETO



CRISTO CONCRETO


Gostaria de acreditar em certas coisas que um dia acreditei, mas isto não é mais possível. Alguém já disse em algum lugar que a fé é semelhante a uma escada cujo degrau de baixo desaparece quando tocamos o de cima.
Foi exatamente isto que aconteceu comigo: coloquei os pés no degrau de cima e o de baixo desapareceu. Agora nada mais resta de hoje para trás, nem mesmo as experiências que um dia julguei espirituais.
Não encontrei espiritualidade na igreja e nem no cristianismo, e jamais poderia tê-la encontrado. Li a Bíblia diversas vezes (de Gênesis à Apocalipse) e não consigo encontrar uma relação de compatibilidade entre o que ela diz e aquilo que a igreja ensina e pratica.
Entre as grandes falácias da igreja cristã, sobretudo a protestante, a maior é a histórica transformação do Jesus Cristo homem concreto em um arquétipo platônico separado das ações reais dos cristãos e das práticas da igreja.
É muito comum dentro da igreja alguém dizer a você para “olhar para Cristo e não para os homens”. Essa frase abjeta e evasiva é muito conveniente para explicar o inexplicável e justificar a atitude dos cristãos que em nada se parecem com aquele de quem dizem ser o seu Senhor e mestre.
Dizer para as pessoas olharem para Cristo e não para os homens (cristãos) é algo semelhante ao conselho hipócrita de um pai que diz para o seu filho não fumar e ele mesmo, sacando um maço de cigarros do bolso, acende um e começa a fumá-lo e soltar cinicamente a fumaça em forma de espirais.
Esse Cristo transcendente, arquetípico, para quem devemos olhar ao mesmo tempo em que ignoramos os homens é uma abstração teórica que jamais poderá ser conhecida pelas pessoas. O Cristo que as pessoas querem conhecer deveria revelar-se nos seus seguidores, naqueles que se dizem seus discípulos.
O Cristo para o qual dizem que eu preciso olhar ao mesmo tempo em que ignoro as barbaridades e falsidades cometidas pelos seus pseudo-seguidores, não passa de uma idéia no melhor estilo platônico. Ele é só um conceito eclesiástico, uma abstração criada por uma instituição falida!
Esse Cristo metafísico, afastado do mundo, com nojo de tudo e de todos, não passa de uma anomalia teológica, de uma criação monstruosa com cara de bom samaritano. O Jesus Cristo de quem fala a Bíblia nos evangelhos não é um “ghost”, como deseja a igreja.
Os discípulos citados na primeira epístola de João “viam, tocavam e apalpavam” o Cristo, o verbo da vida. Entretanto, o Cristo da igreja contemporânea é muito rarefeito para ser visto nas ações dos cristãos, para ser tocado; ele é um fantasma, uma aparição, um conceito e não um ser real passível de materialização.
A igreja citada no livro dos Atos dos Apóstolos “caiu na graça” do povo porque vivia de forma comunitária e manifestava o amor em atitudes concretas ao invés de ensinar conceitos vazios criados para justificar o injustificável. O Cristo só está vivo quando se materializa nos seus discípulos!
O Jesus Cristo da igreja é o messias da superestrutura, é o senhor invisível deslocado do cotidiano, ausente do dia-a-dia, alheio aos maus exemplos dos seus falsos seguidores. Esse Cristo eu desprezo, não tenho e nem quero ter qualquer relação com ele!
Contudo, tenham certeza de que não pronuncio estas palavras objetivando proferir um discurso moralista ou pseudo-espiritual. O problema é que não acredito mais nesses jargões vazios que não passam de desculpa para justificar a maledicência que os verdadeiros discípulos do Cristo há muito já deixaram para trás!

André Pessoa

4 comentários:

  1. Amigo,

    Você está generalizando. Não siginifica que todas as igrejas evangélicas no Brasil e no mundo têm pastores corruptos só porque uma pequena parte delas tem. É preciso ver o lado positivo das coisas. Veja só quantas almas estão sendo ganhadas, o aumento no número da população de evangélicos no País (que, logicamente, você deve ser contra), mas é o que está acontecendo. E outra, lanço um desafio: você dar um tempo de ficar postando sobre os defeitos e falhas dos outros, e postar uma página inteirinha dos seus defeitos, porque julgar o irmão é muito fácil.

    E outra coisa: eu não sou obrigado a concordar com tudo o que você escreve. Muito obrigado pelo internauta que me chamou de múmia (eu ri demais), mas você distorceu o que eu realmente escrevi e ainda me imterpretou mal. Eu me senti ofendido com o que vi e por isso resolvi rebater o que, na realidade, são coisas infundadas, vazias e que fogem do real contexto da situação. Você muitas vezes ironiza com suas palavras sem pensar nas consequências. Só preservo minha identidade pelo fato de não querer ser exposto ou ter minha imagem distorcida publicamente.

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  2. como uma pessoa pode tanto falar de deus e destruir a vida de outras pessoas?
    como...
    agora é nois dois.

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  3. caro anônimo das 22:51 (não, eu não sou o anõnimo das 20:31):

    A questão não é falar de Deus e destruir a vida de outras pessoas. Ninguém aqui está defendendo os pastores corruptos (eu ao menos, não). Ninguém acha que isso que eles fazer é uma atrocidade. Ninguém, mais do que os Cristãos tem aversão a isso. Quem é verdadeiramente Cristão bem sabe o quando isso mancha a imagem da nossa igreja e, consequentemente nossa imagem. Ninguém é a favor disso, reitero.
    Só não concordo com generalizações. Não concordo com:
    1. Querer que o Cristo perfeito se mostre pra que as pessoas passem a acreditar nele. Se for assim, pra onde vai a fé? Se vermos o Cristo, todos acreditarão. Aí qualquer um é Cristão.
    2.Generalizar ao ponto de dizer que é um conselho hipócrita pedir pra que se olhe para cristo e não para os homens. Quando se pede isso, se quer que se tenha uma fé genuína. Se você olha pros homens, crê nos homens, e não em Cristo. é só isso.

    E por fim, me desculpe, mas o exemplo do pai e do cigarro não foi o mais adequado. haveria outro?

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  4. Olá André!

    Achei seu texto no Pava, e ele é a expressão daquilo que sinto hj, o exemplo da igreja em Atos de fato é a maior denúncia de quão longe estão dos exemplos do Mestre aqueles que gritam que são os seus seguidores. A transcedência da "pseudo-adoração" é outra face deste culto a um Jesús ídolo-tótem o qual se manifesta em cânticos e frases de efeitos, mas é incapaz de se manifestar em ações de solidariedade em prol do próximo.
    Um abraço fraterno.
    Claudio Silva
    Charqueadas RS

    PS. Postei seu texto em meu blog com o devido crédito.

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