ACAMPANDO NO INFERNO
Esse é o título de um filme que assisti em DVD na semana passada. Trata-se de mais uma daquelas produções americanas relativamente medíocres.
O enredo do filme conta a história de um grupo de jovens que, liderados por um reverendo bom caráter, mas fundamentalista, são levados meio a contragosto para um retiro “espiritual”.
Confinados em um acampamento que fica no interior de um bosque (uma espécie de big-brother evangélico no meio do mato), os jovens, monitorados severamente pelo seu pastor, “buscam a Deus”.
As regras do acampamento são rígidas e inflexíveis: nada de roupas curtas, encontro entre casais ou literatura profana. Tudo aquilo parecia uma espécie de ditadura do “espírito santo”!
Toda essa rigidez, no entanto, não impede que um casal de jovens apaixonados se encontre a noite na floresta e saiam do seu encontro noturno com as marcas do amor nas roupas que vestem. A paixão sempre dá um jeito de burlar a vigilância dos pastores!
Interessante é o fato de que quanto mais intensa se torna a vigilância sobre os jovens, mas enfática a busca de experiências espirituais e mais intransigente a pregação do reverendo, mais coisas “não espirituais” acontecem no retiro.
Quem diria que buscando a Deus acabamos às vezes nos encontrando com o diabo. Ao que tudo indica, a espiritualidade ascéitca e conservadora conduzem o homem sempre a uma direção contrária aquela que inicialmente se desejava.
Apesar de meio bobinho, o filme deixa uma boa lição: todo extremo é demoníaco. Malabarismos espirituais, ascetismo em demasia, moralismo em excesso e consagração exagerada redundam quase sempre em carnalidade!
Fuja dos muito espirituais, resista aos exageradamente santos, desconfie dos muito moralistas. Por trás do altar há sempre muito lixo!
Parafraseando Nietzsche: a espiritualidade não é natural em nós. Só um pouco de instinto selvagem para nos recobrar dela.
André Pessoa
Esse cara vê defeito em tudo. Agora só falta ver defeito em Deus.
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