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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NATURALMENTE TOTÓ: UM ENSAIO SOBRE A CORNURA



NATURALMENTE TOTÓ: UM ENSAIO SOBRE A CORNURA

As novelas da globo sempre me inspiram, sobretudo aquelas que se desenrolam ambientadas na cultura italiana. Passíone é a mais recente.
Além das floriculturas que sempre aparecem nas cenas, a polenta e os próprios italianos falando, não sei por que cargas d’água, a língua portuguesa em plena Itália, agrada-me observar os tipos humanos.
Entre os personagens que mais me chamaram à atenção na referida novela está o credulíssimo e corníssimo (os superlativos neste caso são necessários) Totó, interpretado pelo ator Tony Ramos. Aliás, a cornura deste personagem é mais realçada por que ele tem ao seu lado uma serpente chamada Clara.
Clara é o protótipo da mulher bandida. Meiga, aparência frágil, fala mansa, boa de cama, cativante, pálida como uma alma penada, terrível e implacável como um demônio.
Um homem relativamente inteligente e esperto já teria problemas com Clara, quanto mais um apaixonado e ingênuo como o doce Totó. Clara é uma naja sibilante, um demônio das trevas vestido de anjo e Totó uma vítima hipnotizada e indefesa que aguarda sorrindo a morte certa!
Analisando o perfil de Totó e a essência da cornura concluo que existem dois (2) tipos de corno: o acidental e o natural. Ambos possuem em comum o fato de terem sido traídos, contudo apresentam perfis diferentes e certas características que lhes são peculiares.
O corno acidental não é corno, apenas está corno. Sua condição não é definitiva, mas apenas temporária. Esse tipo, embora traído, não é inocente e nem crédulo como Totó. Ele foi passado para trás (e quem não é de vez em quando) por que resolveu dormir na mesma cama com uma cobra.
Totó, entretanto, é um corno natural. Mas o que é um corno natural? Você perguntaria. Um corno natural é um vocacionado, um quase santo, um escolhido pelo destino para ser corno.
Ele traz em si todas as características físicas e psíquicas que a cornura exige de um ser humano. A forma dele falar, de se vestir e de tratar as mulheres faz-no naturalmente corno.
Quando o trai, a mulher não tem qualquer remorso por que julga que está apenas cumprindo com a sua obrigação, ou seja, dando-lhe aquilo que ele nasceu para receber.
O corno natural foi marcado desde a maternidade para levar chifre e embora ele ofereça alguma resistência no começo, depois passa a aceitar a sua condição com muita resignação.
O corno natural é reconhecido num único olhar, ao primeiro vislumbre. Mesmo que você nunca o tenha visto e não o conheça, quando os seus olhos pousarem sobre ele você sentenciará: eis aí um corno.
O indivíduo naturalmente corno possui uma estrutura psíquica e comportamental que o torna desconectado da realidade. O corno natural é uma espécie de bom samaritano alienado que não consegue ver o óbvio, aquilo que todo mundo está vendo, inclusive a velha Gema (que merda! todo mulher nessa novela tem nome de ovo!).
No que respeita as mulheres, eu já vi algumas que tinham os seus amantes presos em penitenciárias e iam lá uma vez por semana para transar e levar uma surra, mas quando saíam daquele local eram totalmente fiéis aos seus respectivos namorados bandidos.
Por outro lado, há aquelas que traem o marido até com o entregador de água mineral, ou então com o vizinho na cozinha enquanto o corno natural assiste ao jogo de futebol na sala.
Aliás, os cornos naturais são sempre bons. Eles são bons pais, bons maridos e bons companheiros. Normalmente não possuem vícios, são controlados em termos de finanças, não possuem amantes fora de casa e não chegam tarde. Nada disso impedem-nos, porém, de serem cruelmente traídos.
Outra coisa que não devemos esquecer é que nunca devemos ter pena de um corno natural. Se possível, inclusive, devemos ajudá-lo a ser corno, pois ele não se realizaria de outro jeito. É vocação mesmo!
Um corno natural precisa ser corno. Ser traído para ele é uma necessidade existencial, é uma inclinação do seu caráter. Ele jamais seria feliz de outra forma, acreditem.
O corno natural por vezes pode até aparentar irritação, fúria e revolta ao constatar a traição, mas tudo não passa de teatralização e encenação. No fundo, no fundo o que ele deseja mesmo é ser corno.
Com o tempo ele vende o revólver, desiste dos atos violentos e se acomoda perfeitamente à sua condição e ao seu destino. Daí em diante ele passará a ser vulgarmente conhecido como corno manso, uma subclassificação da cornura natural.
Não esqueça, porém, que o corno natural é um especialista em administração, um estrategista. Ele analisa tudo em termos de custo-benefício e acaba concluindo: ruim com ela, pior sem ela. Eis a grande sabedoria oculta e a estupenda engenhosidade da cornura!
Enfim, filosoficamente falando, os cornos naturais são necessários por que eles são uma espécie de amortecedor que absorve os impactos da vida social moderna. Viva aos cornos naturais, deus salve Totó!

André Pessoa






4 comentários:

  1. Depois de ler esse texto com vontade de teclar rsrsrs e kkkkkkk...(corno natural é um nome ótimo pra chamar esse tipo, muito bom mesmo), senti alívio de não haver mulher dessa categoria, mesmo havendo versões femininas de Totó. O corno natural parece ser um grande ilusionista, que cria suas próprias e convincentes verdades, seu universo paralelo onde pode ser feliz. Ah, desculpa, professor...depois a gente pode até conversar "sério" sobre cornura, mas adianto logo que me falta experiência nesse assunto, já que sou de natureza fiel em tudo. Agora só tenho vontade de rsrsrsrsrsrs...kkkkkkkkkk....
    Cornura natural é muito bom mesmo! rsrsrss....kkkkkkkk

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  2. Você acredita mesmo nisso?

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  3. Ola André
    não tecerei comentário sobre a novela, pois faz muito tempo que já não as assisto, pois me cansei dos seus conteúdos e dos finais mirabolantes.
    Me cansei das personagens vazias, das personagens que não trabalham ou produzem e ainda esbanjam uma riqueza sem igual. Me cansei das personagens que não têm necessidades fisiológicas. Me cansei dos banquetes, das ostentações.
    Mas o que me levou a abandonar de vez as novelas foram os enredos de traições,desarmonia familiar, egoísmos, superficialidades e, acima de tudo, a tendência a formar uma sociedade homosexual, o que teve sua apoteose no beijo gay, tão sonhado pela emissora Global.
    Não precisamos ligar a TV para ficar de frente com todas as "feridas" da sociedade. Basta participarmos dela e abrir um pouco os olhos.
    Importante sua abordagem. Chamar a atenção das pessoas para os gravames do disvirtuamento é melhor do que lhe arrancar as chupetas, embora seja mais difícil.
    Um abraço
    Allis

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  4. Boa noite Prof. André.

    Vejo que você é um noveleiro e que se possível passaria várias horas conversando com o meu Pai que também se dá ao fato de ser um. kkkkk...

    Eu sou um cara que não gosto muito de novelas, e quando vejo, é apenas para rir dessas bobagens que aperecem. Como a que você mencionou. O corno natural, kkkkkk...

    Acho que as novelas que são passadas desse modo, são apenas uma normalização de atitudes que eram para ser passadas como um mal a sociedade. Mas as pessoas que assistem a esse tipo de novela vão dizer: áh pow é normal, passou na naovela. Ou vão pensar desse jeito. E atitudes e personalidades passadas na TV acabam virando moda, e as pessoas ficam sem uma própria.

    A sua análise foi muito boa, e acabou por filosofar da situação. Se os "Realmente Cornos Naturais" fossem ver sua explicação sobre eles. Talves eles se sentiriam mais felizes com essa observação... kkkkkkkkkkk...

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