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terça-feira, 20 de julho de 2010

SOBRE A DOR




SOBRE A DOR


Frejat, em uma das suas canções, diz que todo mundo é parecido quando sente dor. A dor, ao que parece, nivela as pessoas e revela os seres humanos tal e qual eles são, humanos. Na dor não há rico ou pobre, feio ou bonito, apenas homens. Nela as máscaras forjadas para distinguir as pessoas caem por terra revelando a semelhança existente entre todos.
Sobre isso diz Oscar Wilde: “diferente do prazer, a dor não usa máscaras”. A dor é na verdade um sublime momento de revelação. Nela temos acesso aos mais profundos recônditos da alma humana e conhecemos as nossas limitações que tão orgulhosamente tentamos esconder no dia a dia.
Na dor todo mundo tem a mesma cara, todos se parecem, ninguém é diferente. Talvez seja por isso que no sofrimento os homens tendem a ser solícitos e solidários uns com os outros, exatamente por que se assemelham. Os que choram e partilham as mesmas dores sempre se abraçam fraternalmente como irmãos.
Vejam como se parecem os homens enquanto choram. Vejam como são igualmente decaídos os semblantes, vejam como rolam iguais as lágrimas que se precipitam dos olhos e caem na terra do nosso coração fecundando-a. Fecundando-a! a dor gera vida e não morte!
A dor, desde que saibamos absorver os seus ensinamentos, será a melhor de todas as mestras. Ela pode até nos redimir. A dor é redentora, somos salvos pela dor. Triste do homem que é incapaz de senti-la, de aprender com ela, de ser redimido por essa grande tutora que nos conduz por um caminho difícil, mas triunfante.
Entretanto, é também igualmente verdade, que devemos lidar com a dor com a cabeça erguida, sem nos entregar a uma tristeza avassaladora. Devemos ser como aqueles “que não se ajoelham para beber água”, que nunca perdem tempo com excessivas lamentações e que não se deixam abater pelos percalços da vida.
Devemos suportar a dor sem lamentar o destino ou supor que estamos sofrendo por causa do que fizemos e não deveríamos ter feito. Pelo contrário, faremos da dor o combustível que nos move velozmente em direção ao futuro.
A dor é algo inerente a natureza e a existência humana. Quem não sofre e não sente dor certamente também não se pode dizer humano e vivo. A grande questão é: o que faremos das nossas dores? Quanto a mim, embora não a cultue, respeito-a e aprendo com ela. E você? O que faz com a sua dor?
André Pessoa

2 comentários:

  1. Existe uma sutil diferença entre ideia e ação. Uma ação sem a ideia é uma caminhada sem destino. Já uma ideia sem ação é como um tesouro submerso. Contudo, uma boa ideia posta em prática, isso leva o homem a Lua.
    André, acho seus textos muito amplos, tanto na profundidade do seu contexto quanto pelos temas abordados. Legal poder ver o mundo pelos seus olhos, eles já me mostraram muitas outras coisas. Valeu!!!
    Allis

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  2. Primeiro eu grito..."porque há o direito ao grito, então eu grito", como escreveu Lispector, que agora redescubro, depois de mais de dez anos do primeiro encantamento. Um grito de dor pode ser muito produtivo, criativo, bonito e pode se dar de maneiras mil, mas será sempre transforma-dor e inevitável. "Eu não sou intelectual, escrevo com o corpo", mais uma vez digo sim a Clarice Lispector...e digo também que se minha escrita sai do corpo (que é pura alma tb), também com ele grito minhas dores e minha'lma artista busca sempre a poesia que vem daí.
    Lembranças ao Andy...

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