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quarta-feira, 2 de junho de 2010

ALÉM DO SOL



ALÉM DO SOL


Basta uma noite bem dormida e uma serena reflexão para vermos que o passado é só cinzas. Falar com ele é ressuscitar os mortos, invocar desnecessariamente fantasmas. Outra etapa já começou!
Nosso alvo está adiante, “além do sol”, como disse poeticamente Baudelaire. Voltar ao passado é lidar com a poeira, é o mesmo que descer os degraus que conduzem a uma masmorra (lugar de dor, choro e gemido).
O passado também é uma reedição do sofrimento e da agonia. Ele é como um artista que não querendo sair de cena veste outras roupas, muda o figurino, mas permanece o mesmo. Entretanto, a cortina acabou de descer.
Viver no passado, percebo agora, é viver no vácuo, no nada, pois o passado já não existe mais. Penso que a história de cada um de nós é semelhante à subida de uma escada cujo degrau anterior desaparece quando tocamos o posterior (o passado é um degrau que está desaparecendo).
Ele mora nos domínios do inexistente, não pode nos afetar, embora nos visite a memória. Os fantasmas nada podem contra os homens vivos.
Não dirigirei mais uma única palavra ao passado, não abrirei mais a minha boca para invocá-lo.
Caiam sobre mim todas as maldições que decorrem da obstinação dos loucos se mencionar mais meio vocábulo que seja sobre tudo aquilo que o tempo levou embora.
Além do mais, é bom lembrar que as figuras do passado vão ficando longe e distorcidas à medida que andamos. Elas estão se desfazendo neste exato momento, perdendo a forma; e se continuam falando é por que insistem desesperadamente em existir quando já não são.
“Não se entra no mesmo rio duas vezes”, disse Heráclito, filósofo grego, oito séculos antes de Cristo. E se Heráclito não for suficiente, queira Deus que sejamos capazes de ouvir a sua voz nos dizendo: “Eis que tudo se fez novo, as coisas velhas ficaram para trás”. Deixemos o passado aos antiquários.

André Pessoa

2 comentários:

  1. Eu tinha a certeza de que um dia leria essa postagem aqui, André. Desde um certo sábado eu já esperava por ela... Espero que agora você se faça bem mais leve por dentro no que diz respeito a esse aspecto; certos "fantasmas' não te fazia nem um pouco bem.
    sempre vou te desejar o melhor.
    Beijo!
    Ju.

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  2. Ola André, mais uma vez você está certissimo. No passado devem ficar os atos heróicos, as lembranças de diversas ações, profissionais ou não. O passado deve ficar com a lembrança do colo da mãe e do apoio do pai para sempre lembrar de fazer o mesmo com os seus filhos. Mas eu falei do profissional. Vemos nas empresas e no mercado de trabalho, em geral, pessoas se lamentado que não foram promovidas ou reconhecidas, embora há algum tempo tenham realizado algo importante. Mas as pessoas se esquecem que se fizeram algo que elas acham que foi de valor, se esquecem que isto ocorreu no passado. É necessário sempre fazer algo novo, ser criativo, surpreender seu chefe, pensar no que será necessidade para o ser humano daqui a alguns anos.
    Veja um professor, ele não pode apresentar sempre a mesma aula, embora ela possa ser sua melhor aula no passado, caso contrario, tanto ele quanto os alunos não terão um futuro.
    Um casal tem que validar os votos de amor todos os dias, pois o voto do passado se perde na rotina do presente.
    São tantos os exemplos, mas o melhor seria a relação de pais e filhos. Não há passado pois o filho tem sempre algo a nos apresentar no presente.
    Filho que nos traz orgulho não é o que tem passado, mas aquele que nos surpreende no presente e cria uma expectativa para o seu futuro. Ou seja, é aquele que abre a janela para além do sol.
    Grande abraço
    Allis

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