Arquivo do blog

sábado, 20 de junho de 2009

OS VIGIAS



OS VIGIAS


Eles abandonaram as regiões altíssimas para serem guardiões do objeto secreto. Agora rondam o meu quarto, zunem sem que os veja, vão rapidamente de um cômodo a outro, deixam marcas súbiteis, lugares ainda quentes; estavam aqui a pouco.
Guardam o objeto, o receptáculo mundi, a memória da terra e dos homens, a forma comum que pode está numa gaveta, em cima de um móvel, no bolso de uma camisa, em qualquer lugar.
Não é bem o objeto que guardam, guardam a mim, existem por minha causa, pelejam por mim sem que perceba, livram-me sem que eu saiba.
A presença é estranha, confesso, mas não tenho medo. Foi me dado controlá-los.
Faz tempo que estão comigo, no início eu não entendia. Agora mesmo recolheram uma pedra que estava no meu caminho.
Quando durmo, velam por mim a noite inteira. Mas também voam para outros lugares, influenciam outras pessoas, pessoas que encontrarei no dia seguinte, nos meses seguintes, nos anos seguintes...
Eles fazem parte da realidade não-comum, sinalizam o meu caminho, são projeções de mim mesmo que habitam um mundo imperceptível aos rudes.
Ajudam-me a ler as coisas e os semblantes, chamam-me à atenção para outras nuances, transitam entre dois mundos que estão longe um do outro e ao mesmo tempo se interpenetram.
Trazem de lá, levam daqui. Passeiam em todos os lugares que freqüento, traspassam o meu corpo como se nada fosse, entretanto, existem por minha causa.
O principal deles é Highel: mistura de sagrado e profano, simplicidade e soberba. Ele não consegue ser submisso, sensual, se parece comigo embora sejamos feitos de diferentes substâncias.

André Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário